Paralelamente ao Renascimento clássico, desenvolveu-se em Roma, por volta de 1520 até meados de 1610, a arte maneirista. O termo tem origem na expressão italiana la bella maneira e significa “a bela maneira”. Tratava-se de uma tendência para a estilização exagerada que se transformou na sua identidade, extrapolando assim, as rígidas linhas dos modelos clássicos.
Pintores, arquitetos e escultores foram impelidos a deixar Roma com destino a outras cidades. Valendo-se dos mesmos elementos do Renascimento, mas com um espírito totalmente diferente, criam uma arte de labirintos, espirais e proporções estranhas, que são, sem dúvida, a marca inconfundível da arte maneirista.
Na escultura, o maneirismo segue o caminho traçado por Michelangelo: às formas clássicas soma-se o novo conceito intelectual da arte pela arte e o distanciamento da realidade. Em resumo, repetem-se as características da arquitetura (destaque para Palladio e Giorgio Vasari) e da pintura, sendo que nesta última, os temas históricos, a mitologia greco-romana, os retratos e a temática religiosa tiveram uma atenção especial tanto em telas quanto em afrescos.
A composição típica desse estilo apresenta um grupo de figuras dispostas umas sobre as outras, num equilíbrio aparentemente frágil. As imagens são unidas por contorções extremadas e o alongamento exagerado dos músculos.
O modo de enlaçar as figuras, atribuindo-lhes uma infinidade de posturas impossíveis, permite que elas compartilhem a reduzida base que têm como cenário, isso sempre respeitando a composição geral da peça e a graciosidade de todo o conjunto. Tetos espetaculares de Correggio e Tintoretto são exemplos desta composição exuberante em formas, linhas e cores.
Benvenuto Cellini (1500-71) foi um artista típico desse período, escultor e ourives florentino, que em sua vaidade, extravagância e temperamento irrequieto, que o impeliram de cidade em cidade, e de corte em corte, criando conflitos e brigas, e ganhando os louros. Uma de suas obras inusitadas é um saleiro de mesa, feito em ouro cinzelado e presenteado ao rei francês, Francisco I de Valois, em 1543.
Estátua de Perseus segurando a cabeça da Medusa. Benvenuto Cellini, 1545. Foto: kubais / Shutterstock.com
Na composição do saleiro, apresentam-se duas figuras, Gaia e Netuno, que respectivamente representam a Terra e a Água, os quais aparecem com suas pernas entrecruzadas, simbolizando sua união para a produção do sal.
A peça tem em sua base a salamandra (símbolo da Casa de Valois) e a flor de lis (símbolo da Coroa da França) e hoje encontra-se em exposição no Museu de História da Arte de Viena, na Áustria.
Destacam-se entre as obras de Paolo Veronese, Parmigianino, Bronzino, Andrea Palladio, Jacopo Pontormo, Gian Lorenzo Bernini, Bartolomeo Ammanatti, Giuseppe Archiboldo, Correggio e Tintoretto.
Fontes:
ARGAN. Giulio Carlo. História da Arte italiana: da Antiguidade a Duccio. Vol. III, São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
HOCKE, Gustav R. Maneirismo: o mundo como labirinto. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005.
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